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Homofobia tem cura: educação e criminalização

domingo, 28 de setembro de 2014

Essa frase já foi lema da Parada Gay de São Paulo e acredito que ela pode nos introduzir em um debate importante: o do direito a informação. Estar bem informado é fundamental para absolutamente tudo. Informar é arma, inclusive, contra os preconceitos.

Informações pela metade, falta de acesso a informação de qualidade, sempre ajudam a propagar pensamentos e culturas homofóbicas, machistas e racistas. No Brasil a gente percebe isso dia após dia em meios de comunicação que simplesmente dominam o mercado, ou que apresentam grande influência, e em suas novelas e programas não discutem essas questões que estão no nosso dia a dia, e quando discutem mais promovem a ignorância e os esteriótipos, como por exemplo cortando cenas de carinho entre o único casal homossexual da principal novela por considerar excessivos. 

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Diversos países no mundo já discutiram e regulamentaram sua mídia. Outros tantos também o estão fazendo. O Uruguai discute a matéria enquanto a Argentina e o Equador já aprovaram leis sobre o tema. Inglaterra, Portugal, França e EUA também regulam seus meios de comunicação, punindo e impedindo abusos.

Criminalizar a homofobia é uma necessidade, mas o debate entorno dessa questão precisa avançar, e avançaria com uma mídia disposta a discutir o tema com a amplitude e o respeito que merece. E outras questões como o aborto, o voto obrigatório, drogas e tantos outros assuntos que pouco aparecem nos programas e nas novelas.

É momento de eleição, e o que pensam @s candidat@s e os partidos sobre essa imprensa que não respeita a diversidade do nosso país e não tem a mínima responsabilidade sobre o que diz? Precisamos de uma regulamentação que estimule a concorrência e impeça que um meio que comunicação se torne o dono da verdade, ou seja o único com condições de fazer com que a sua verdade circule. Não estamos falando de censura, estamos falando de diversidade de informação.

Soluções como limitar o tamanho de cada grupo, ou impedir que o mesmo grupo seja dono de vários veículos são exemplos de soluções para diversificar a informação. Arma contra a homofobia, boa informação, informação ampla e diversa deve ser direito. E de tod@s. Quem se interessar pelo tema, o site Observatório da Imprensa debate esta e outras questões, assim como Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé 

18ª Parada LGBT de São Paulo acontece hoje

domingo, 4 de maio de 2014

Acontece hoje a 18ª Parada LGBT de São Paulo. Apesar de ter encolhido por conta do seu formato no ano passado, edição após edição a parada sempre bateu recordes de público e foi por diversas vezes a maior do mundo. Com o lema"País vencedor é país sem homolesbotransfobia", a parada é, como sempre, assunto e gera polêmica. E esta é pra mim uma das suas maiores virtudes.

(Tirada do Portal: Overmundo)

Em um país onde a violência homofobica é cada vez mais crescente e a impunidade em relação a esses casos ajuda a reforçar esse triste cenário, mais do que importantes, eventos como o de hoje, escancaram, dentre outras coisas, dois pontos cruciais: existem pessoas LGBT e elas sentem orgulho disso, a ponto de lotarem uma avenida para festejar suas sexualidades.

Seja qual for a crítica que se tenha contra a Parada LGBT de São Paulo, não se pode negar: a parada escancara e dá visibilidade à existência de milhões de pessoas não heterossexuais, uma multidão de pessoas que não é retratada de fato nem nas novelas, por exemplo. Mais do que isso, essa multidão esquecida faz festa. E mais do que isso, neste ano eleitoral a festa tem um lema que nos lembra da importância de combater esse problema social tão grande: o preconceito. Que não esqueçamos disso até outubro, que lembremos disso sempre.

Boa parada para tod@s.

Confira a programação*:
10h00 – Concentração em frente ao vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo)
12h00/13h00 – Previsão de início da Parada Gay SP
18h00 – Término da Parada Gay SP na Praça Roosevelt
18h00 às 21h30 – Show na Praça da República com Pedro Lima e Wanessa
*Fonte: Portal iGay

“Leia a Bíblia, mas só quando for conveniente!”

quarta-feira, 26 de março de 2014

Já cansei de ver caras feias, que sempre vêm acompanhadas de Bíblias (seja do novo ou velho testamento) debaixo de braços, quando há alguma manifestação homoafetiva em qualquer lugar público. Fico pensando porque há tanta opressão, repulsa e exclusão por parte dessas pessoas religiosas, sendo que, na minha concepção, a religião serve para acolher, confortar, RELIGAR, como já diz o próprio nome.



Antes de discutir o assunto e levantar o debate, acho importante destacar que fui criada em meio a pais e avós católicos, fiz catequese e crisma, estudei a Bíblia e, por isso, tenho um pouquinho de base para falar. Por conhecer a chamada “palavra” e interpretá-la, questioná-la, colocá-la dentro do tempo e do espaço em que foi escrita, não consigo conceber que certos ditos publicados nela sejam seguidos por tanta gente como a lei total e única de todas as leis.

Um exemplo: O livro da Bíblia “Levítico”, que é, aos quatro cantos, vociferado por fanáticos evangélicos como a prova cabal de que a homossexualidade é um pecado, traz algumas “normas de conduta” a serem seguidas pelos cristãos. Em uma das passagens, em 18:22, ele faz um aviso os homens: “Não se deite com um homem como se fosse mulher. Isso é uma abominação”. Indo um pouco mais lá atrás, em Gênesis 19:1-25, narra-se a destruição de Sodoma e Gomorra por Deus, devido a prática do sexo entre os homens. Estas partes do “livro sagrado” são usadas praticamente como escudo por religiosos quando o assunto é o amor homo. Acho interessante que estes capítulos são grandes, mas estas pessoas do nosso século recortam apenas a parte que interessam destes trechos e excluem os outros.


Imagem 1: Igreja Católica não se posiciona favoravelmente a união homoafetiva, mas esconde milhares de casos de pedofilia

Explico. No mesmo Levítico, em 15:19-24, diz-se que a menstruação feminina é uma imundice e tudo o que a mulher tocar neste período fica imundo também, inclusive seu marido. Depois, em 21:20, ninguém pode se aproximar do altar de Deus se tiver alguma doença ou defeito, se for cego, coxo, corcunda ou anão. Já em Êxodo 21:7-8, por exemplo, são dadas orientações sobre a maneira de vender a própria filha como escrava (lógico que o Levítico não ia ficar de fora nessa e em 25:44 explica que os escravos devem ser comprados nas nações vizinhas). Além de outras partes que proíbem o homem de cortar a barba e condenam à morte as pessoas que trabalham aos sábados.

Os trechos que descrevi neste 4º parágrafo são considerados por todos (inclusive pelos religiosos xiitas) preconceituosos, xenofóbicos e cruéis. Ninguém acha humano vender a filha como escrava (por mais que haja muito machismo e trabalho escravo velado por ai) ou morrer porque teve que dar aquele plantãozinho no sábado, certo? Por que, então, continuar tratando como verdade absoluta somente a parte em que se condena a homossexualidade? Isto também não é humano. É além de preconceituoso, muito cruel.


Imagem 2: Casal de lésbicas se beija durante culto liderado pelo Pastor Marco Feliciano. Religioso enaltece o discurso contra homossexuais, mas em cultos pede a senha do cartão de fiéis da sua igreja, prometendo "um lugarzinho no céu" a quem fizer grandes doações

Todo este antiquíssimo manual de conduta escrito na Bíblia foi redigido por homens, que viviam no tempo da Judéia. A nação deles não existe mais há milhares de anos. Os tempos mudaram, a civilização se desenvolveu. Não há o que pegar de exemplo neste livro para uso atual na sociedade. Não por nada, não porque é ruim, é só porque o tempo dele já passou.

Aí fico pensando o que as pessoas poderiam seguir da Bíblia mesmo, quase nenhuma faz. Amar ao próximo como a si mesmo ou considerar todo o qualquer ser humano um irmão são coisas extintas neste mundo, que está cada vez mais egoísta, homofóbico, racista, machista, elitista e repressor.

Diário de um desconhecido. Parte II

segunda-feira, 17 de março de 2014

Danilo é o nome dele, tem 23 anos, estuda jornalismo e já esta estagiando na área. Depois daquela noite continuamos nos falando, na verdade ele me trouxe até em casa e trocamos nossos números de celular.

Eu sai do carro dele e entrei em casa, deu 5 minutos havia uma mensagem dele, perguntando o que faria no dia seguinte, eu havia marcado de sair com alguns amigos, mas infelizmente o pessoal deu para trás, tinha o dia livre. Ele então me convidou para ir numa festa, era de uns amigos dele, pensei, por que não?

Marcamos as 20 horas na frente da minha casa, as 20 horas ele estava lá, sempre muito pontual, me cumprimentou com um aperto de mão e saímos. A festa era perto da minha casa, o ambiente era agradável e o pessoal muito divertido, bebemos, dançamos e jogamos conversa fora.

Ele me contou de um relacionamento passado, não havia dado certo, parece que a “pessoa”, não queria nada sério, matinha outro relacionamento, dava a entender que tinha vergonha dele. Naquele momento eu ainda não entendia o que ele me dizia, na verdade ele soltava ao poucos, sobre quem de fato ele era.

Ele é engraçado, temos varias coisas em comum, acho que por isso que nos damos tão bem, na verdade acho incrível a paciência que ele tem comigo e com meus ataques e frustrações. Ele leva a vida no bom humor, quase sempre faz uma piada, isso me irrita um pouco, ele faz graça de tudo, até quando estou com raiva. 

Continua...

Hoje é dia das mulheres, certo?

sábado, 8 de março de 2014

Vamos começar por aí: hoje não é dia de comemorar!

Enquanto andava pelo centro da cidade, vi uma centena de promoções em lojas de roupas, eletrodomésticos, supermercados, todos em nome do tal dia destas que são tão amorosas, lindas e fortes: as mulheres. No geral, sabemos que existe um ‘dia das mulheres’ (muito parecido com o dia das mães, inclusive), mas a maioria das pessoas que conheço – inclusive mulheres – não sabe muito bem por quê. Este é na minha opinião o maior perigo que envolve este tipo de data: cair no esquecimento e, banalizada, virar mais um motivo comercial apenas.

Hoje não é só o 'dia das mulheres'. É o dia internacional da luta das mulheres, a luta feminista. Esta data foi oficializada a partir de uma série de manifestações dos movimentos feministas que tomavam lugar durante o final do século 19. As mulheres estavam presentes nas fábricas, no entanto ganhando menos, trabalhando mais e em condições sub-humanas. Foi durante a primeira guerra mundial (no dia 8 de Março de 1917) que cerca de 90 mil trabalhadoras russas manifestaram-se contra o Czar em exigência de igualdade de direitos, mudança do modelo de trabalho, erradicação do trabalho infantil, entre outras bandeiras. O pensamento feminista se apresenta como um movimento articulado com outras frentes trabalhadoras, liderado por mulheres que lutam por igualdade de direitos e acessos. Talvez justamente por carregar em si a chamada para uma reflexão sobre a necessidade de mudar as coisas que esta data vem sendo tão banalizada. 


Pensa comigo: Por que há um dia das mulheres, e não há um dia dos homens?

É que historicamente nós mulheres fazemos parte de uma minoria política. Minoria política é qualquer parte da sociedade que sofre opressão, o que ocorre às mulheres desde que o mundo é mundo. O machismo é cultural e está tão enraizado em nosso cotidiano que o torna fácil de mascarar, mas uma vez que conseguimos enxerga-lo, é assustador o quão presente está em nossas vidas. Exemplos não faltam: tem aquela sua colega de trabalho que foi promovida e tem que aguentar piadinhas sobre relações sexuais com o chefe – chefe este que ainda hoje geralmente é homem. Tem aquela sua colega cujo  ex publicou vídeos íntimos na internet por vingança. Tem aquela mocinha que foi estuprada na sua vila e que foi considerada culpada porque estava usando uma saia curta. Tem a sua vizinha que apanha a cada vez que o marido fica bêbado e também a sua irmã, que os veteranos da faculdade fizeram andar de quatro durante o trote. Mais ainda, tem a sua mãe, que está agora mesmo com o umbigo na pia lavando louça...

É. E apesar de vivermos no futuro das tecnologias, estamos bastante atrasados na garantia de direitos sociais de fato para todxs. Há pouquíssimo tempo, nós mulheres não podíamos votar. O atenuante criminal de “legítima defesa da honra” - aquele em que o cidadão agride/mata por motivo de adultério - existia há até 20 anos atrás. Já Maria da Penha apanhou a vida toda, levou um tiro no meio da noite, e vale lembrar que a lei que caracteriza a violência doméstica e que leva seu nome foi criada apenas em 1996. Todo o ano tem 08 de Março, na sequência do carnaval. Ironicamente, o símbolo do carnaval ainda é a mulata: uma mulher negra destinada ao sexo. Exportamos essa ideia como quem exporta um saco de laranjas. O machismo e o sexismo existem, e são monstros culturais que precisamos matar a cada dia.



Mesmo com esta data, de 1917 até hoje nossas conquistas foram grandes, mas o buraco ainda é muito mais embaixo. De lá pra cá, continuamos ganhando menos. Continuamos sofrendo assédios. Seguimos sendo objetos de vender cerveja, carnaval, remédio pra emagrecer. Ainda nos são negados direitos básicos. Continuamos sofrendo violência doméstica: a cada 2 minutos, 5 mulheres são agredidas no Brasil. Eu disse 2 minutos, quase o tempo que você levou para ler este texto até aqui.


É por isso que insisto que não faz sentido dizer ‘parabéns’. Do contrário estamos aceitando a realidade como ela é e, de certa forma, celebrando a supremacia de um gênero sobre outro. Dizemos "parabéns mulheres por serem tão fortes, porque além de trabalhar, dar conta da casa, cuidar dos homens e da família, ainda são bonitas e inteligentes!".

Nós do Blog de Todxs acreditamos que a luta pela igualdade das mulheres deve ser defendida o tempo todo e 8 de Março deve ser lembrado como um dia de luta. Ao invés de distribuir e receber brindes sem sentido, devemos levar esta data a ser ensinada nas escolas, pois a luta por igualdade precisa ser parte do cotidiano de nossas filhas e filhos.
Hoje é dia de reflexão. Refletir pode mudar conceitos. Mudança de conceitos pode mudar ações. Ações diferentes podem fazer do mundo um lugar mais igual... E aí não precisa me dar rosas.



Joyce Souza

*imagens: internet
agradecimento especial à página do Facebook "Moça, vc é machista"

Levante-se contra a homofobia! Pelxs amigxs, pelxs familiares, por você!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Fica aqui hoje a dica de dois vídeos bastante legais. O primeiro é de uma campanha contra a homofobia lançada na Irlanda. O vídeo não é novo e talvez muitos conheçam, mas ele reanima todxs e lembra o quanto é importante se levantar contra a homofobia, por nossxs amigxs, parentes, por nós e por todxs. E quem não conhece pode conhecer e divulgar uma campanha legal, que em menos de cinco minutos consegue tocar bastante gente. O melhor é que o vídeo está legendado.



O segundo vídeo é muito bacana. O cantor Criolo arrasou respondendo uma piadinha homofóbica no programa Estúdio ShowLivre 2011. Se levantou contra a homofobia e deu exemplo, galera. Vale assistir. Acontece por volta dos 23:40segs. O apresentador faz uma piadinha homofóbica e Criolo devolve dizendo que não vai rir, porque se rir vai parecer que é um problema ser homossexual.


Levante-se você também! É sempre dia e é preciso todo dia!

Até Tu?

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A maioria dos homofóbicos que eu conheço vê minha sexualidade como uma insígnia moral: gays são promíscuos, fúteis, transmissores de doenças, depravados e querem o fim da família brasileira (sendo esta a minha acusação predileta). Mas, claro, se você acessa esse blog você já sabe o que os homofóbicos pensam de nós.Por alguns anos, eu realmente achei que minha sexualidade falasse algo da minha moral. Não, não do jeito que os homofóbicos pensam, mas eu sempre achei que ela me fizesse uma pessoa melhor. Explico minha lógica juvenil: eu sou gay – e na escala Ritcher da homossexualidade, estou mais perto do extremo Pintosa do que que do extremo Ativão Discreto do Futebol, o que aumenta minha visibilidade – e, por ser gay, automaticamente sofro preconceito. E, por sofrer preconceito, sou menos suscetível a ser preconceituoso.

Faz todo o sentido, não? Pessoas que sofrem discriminação exercitam, em tese, sua empatia e, por entender o mal que o preconceito causa, seriam menos propensas a ser preconceituosos escrotos.

Em tese.

Pena que as coisas não funcionam desse modo: de certo modo, todos somos preconceituosos. Não estou falando daquela coisa criminosa, violenta e triste que nos vem à mente sempre que pensamos em preconceito. Falo daquela outra coisa, que passa desapercebida, que cometemos na roda de amigos entre cochichos e risinhos, ou daquele pensamento que corre nossas sinapses meio que inconscientemente.

(Fonte Blog ComArte)

Vou falar só desses pecadilhos cometidos por nós, gays. E falo, pra não perder o posto de conhecedor de causa, de situações que eu ou meus amigxs vivemos, seja no papel de ofendidx ou ofensxr.

Falo daquela vez em que fomos machistas e chamamos aquela garota de quem não gostamos de puta. Ou quando chamamos alguém de baiano (estou falando com vocês, paulistas) ou de paraíba (é com vocês, cariocas). Ou quando queremos ofender um hétero e chamamos ele de viado. Ou quando chamamos, pejorativamente, alguém de pintosa – válido também pra quem escreve “não sou e não curto afeminados” no aplicativo de pegação.  Ou quando chamamos, pejorativamente, alguém de passiva (trívia: uma vez eu dei toco num ativo que estava louco pra me pegar e ele, ofendido, me xingou de passiva. Coerência, apenas coerência). Ou quando usamos qualquer um daqueles palavrões machistas/homofóbicos que aprendemos no colégio.  Ou quando esculhambamos alguém por estar fora do padrão de beleza/idade vigente.  Ou quando esculhambamos alguém pela situação financeira delx.  Ou quando viramos a cara automaticamente pra alguém que é evangélico.

Sim, sim, eu sei. Meus exemplos estão sendo pueris e meu argumento está sendo infantil. Mas meu ponto permanece: todos nós, que sofremos discriminação, também discriminamos.  E é isso que eu acho, no mínimo, bizarro. Se nós sabemos, por cicatrizes, quão escroto é sermos julgados e coisificados por um único aspecto do nosso todo, como podemos continuar com esse ciclo de violência? Como podemos ser, às vezes, machistas, bairristas, homofóbicos, elitistas... enfim, escrotos?

Quão coerente é nossa luta por igualdade, integração e aceitação se nós às vezes caímos na esparrela dos nossos demônios internos? Atualmente, não acho mais que minha sexualidade seja um insígnia de coisa alguma.  Mas ainda a entendo como uma responsabilidade.  É tipo o prefácio de Ensaio Sobre a Cegueira: se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.  Entendemos, por não podermos andar de mão dada com nosxs namoradxs sem recebermos olhares atravessados, por recebermos diariamente notícias de outros gays que apanharam na rua, por lermos sobre pessoas que se matam pela falta de aceitação de familiares, pela luta de direitos que é vista como futilidade ou fanfarronice por alguns, o quão terrível é sermos discriminados. Se sabemos dos horrores disso, não é nossa responsabilidade não perpetuar esse ciclo de violência?

                                            (Retirado da Página do Facebook Não aguento quanto)

Nossa luta por igualdade e aceitação deve ocorrer nos campos do macro e do micro. Devemos fazer passeatas, abaixo-assinados, votar em representantes decentes, lutar contra o que está errado e bater de frente sempre. Sempre! Mas também devemos nos policiar, pra não sermos como aqueles que nos apontam o dedo.

Chamar o hétero de viado pra ofender, falar que bi é só um indeciso, ser machista, fazer piada racista, fazer coro pro modelo de beleza, riqueza e juventude vigente, endeusar e se intitular “discreto”, tudo isso – você já sabe, mas é bom repetir – só dá lastro pra essa sociedade preconceituosa e cretina continuar sendo preconceituosa e cretina.


Podemos ver. Devemos reparar. 

Fernando Pivoto, ator e arte educador.

“Deixa a menina sambar em paz!”

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014



Estava um dia conversando com dois amigos (homens, heteros, brancos, magros, sulistas, cristãos e é bom que se diga que eles não sabem, nem de longe, o que é sofrer preconceito) e observávamos as pessoas na rua. Em um determinado momento, nos deparamos com dois casais de lésbicas. Um com duas mulheres bem femininas e de aparência delicada. O outro, de duas mulheres com vestes mais masculinas, gordinhas, nada delicadas. Os dois casais pareciam, a meu ver, se amar muito ou, pelo menos, conservar um carinho mutuo. Essa foi a MINHA percepção da situação. Já a deles…


Os comentários feitos ao primeiro casal eram “Nossa, que desperdício duas gostosas dessas ai se amassando e a gente aqui sem nenhuma!”, ou “Que delícia, hein? Imagina eu com essas duas numa cama? Fico de pau duro só de pensar!”. No entanto, para o outro casal os dizeres foram “Que nojo! Tira essas sapatas daqui!” ou “Que coisa horrível! Elas querem ser homens com esse jeitão de machonas? Pra que se vestir assim? Porque não se alistam ao exército igual a nós?”. Fiquei perplexa e extremamente chateada com todos os comentários. Isso gerou uma briga e eles tiveram que me ouvir durante todo o caminho de volta no trem. Talvez eles não sejam mais tão meus amigos assim, mas o ponto é outro. Cheguei a algumas conclusões após este episódio:


A primeira é que, que merda, o machismo está cada dia pior! A cada um passo para frente, são dois passos para trás. Todas as lutas feitas pelo respeito as mulheres é só o começo, mudar estas mentes horrendas e machistas é que é o maior desafio. A segunda é que, quer dizer então que duas mulheres bonitas e femininas podem ser lésbicas, mas não porque a lesbofobia acabou e elas podem fazer o que quiserem das próprias vaginas, mas sim porque elas, por serem “gostosas”, podem satisfazer as fantasias sexuais dos machos alfa, se namorando. A terceira é que duas lésbicas que não obedecem os padrões de beleza impostos pela sociedade machista e patriarcal que vivemos, devem ser queimadas na fogueira, escondidas, devem ter vergonha de ser assim, porque a bíblia, o papa, a tv e o pai deles disse que mulher tem que gostar de rosa, usar vestido e gostar de homem. Essa última parte serve para todas, até para as gostosas. Gostar de homem, ou melhor dizendo, gostar de pênis.


Indo no cerne da questão, o machismo binarizou os gêneros e, pior que isso, separou as mulheres em sexualmente desejáveis e feias solteironas. E, o mais importante, decidiu que todas precisam de pinto. Cansei de ouvir as vomitáveis frases que soam como “Tá de mal humor? Isso aí é falta de levar um...(utilize a palavra que você quiser para caracterizar pênis)”. Segundo os homens, nós só podemos ser assim, é disso que precisamos para alcançar a felicidade e fazer cara bonita. Se por acaso eu sou uma mulher feminina, mas não quero o instrumento fálico dele, e mais do que isso, desejo uma mulher, não me comeram direito e isso é um desperdício. No entanto, se sou uma mulher que não gosta de vestidos nem maquiagens e prefere se vestir como homens, e que é (ou não!) lésbica, sou uma aberração da natureza, ou sofri abuso sexual quando criança, ou não tive uma referência de mãe em minha vida. OI?


As lésbicas podem simplismente ser lésbicas. Elas podem se descobrir homossexuais porque deu vontade, porque nasceram assim. Estas mulheres não servem para satisfazer o desejo de homens inseguros e limitados. Elas não estão ai porque tem traumas, porque não sabem ser femininas ou porque nunca encontraram um “homem de verdade”. Elas somente são. E deixem elas serem!


Falo isso não como protagonista desta luta, pois sou heterosexual, mas como mulher que luta todos os dias para que todas as mulheres sejam livres para ser o que quiserem, fazer o que quiserem, sentir o que quiserem. Que nossas escolhas e naturezas não sejam entendidas como resultado de uma submissão a vontade masculina. Que ninguém se sinta no direito de dizer o que temos que fazer com nossos corpos. Liberdade para nós!


Patrícia Toni Firmino
Jornalista e inquieta

Diário de um desconhecido. Parte I

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Meu pai dizia que isso era estranho e que não era obra de Deus, que eu precisava ir a igreja e falar com o pastor. No canto da casa, eu só ouvia os choros de minha mãe e os berros do meu pai para com ela, culpando-a do fracasso do filho, quanto homem.
Talvez ele não entendesse que o que sou não é uma escolha, na verdade nem eu sei bem o que é isso. Eu sou gay, e agora? 
Prefiro não dizer, quem sou, tenho muitos amigos e boa parte deles podem estar lendo esse blog, apesar de que não é bem o tipo deles, ficar lendo essas coisas. Pra ser sincero, acho que eles nem devem ler.
Tenho 22 anos, sou estudante de Engenheira e isso basta de informação. Me acho um cara bonito, sou muito vaidoso, cuido das unhas dos pés e das mãos, meu cabelo é minha vida, preto e liso como deve ser.
Sempre me achei uma pessoa normal, até um tempo atrás, antes de eu descobrir que sou... Bem que sou isso, eu gostava de futebol, gostava de falar sobre carros, gostava de sair a noite para as baladas e com mínimo de esforço, pegar as garotas mais tops da festa. Já não faço mais nada disso.
Ele tem olhos azuis, cabelo loiro e são tão macios, ele me entende como ninguém, não podemos passar mais que cinco ou quatro minutos juntos, caso contrario começamos a discutir. Quase sempre é sobre quando vou me assumir, ou como ele mesmo diz, “quando vou sair do armário?” Ele tem um jeito engraçado e debochando de falar, mesmo assim, vejo a tristeza nos olhos dele, quando respondo dizendo que não sei.
Ele é muito bom pra mim. Nos conhecemos numa festa na casa de uma amiga em comum, não tinha ficado com ninguém aquela noite, nem queria, eu estava um pouco estranho, por diversas vezes flagrei ele me olhando, confesso que olhava um pouco para ele também, num momento da festa perdi-o de vista até que ouvi a sua voz bem próxima ao meu ouvido, era ele, me assustei, ele me perguntou se podia sentar ao meu lado, havia um cadeira vazia, eu disse que sim, ele sentou, por alguns minutos ficamos calados, até que ele começou a falar da festa, ai falou da musica, falou da lua, que dava para ver pois estávamos perto da janela, dai começou a me fazer rir, falando de um menina que dançava feito louca na sala.
Ele me perguntou se eu fumava, respondi que sim e que estava doido por um cigarro, havia deixado meu maço em casa. Ele então tirou uma caixa de cigarros do bolso da calça e me convidou para fumar com ele, descemos até a frente do prédio e la, ficamos... Enquanto fumávamos, falamos de relacionamentos, ele até então não se abrirá para mim e nem confessara nenhum de seus segredos de vida, apenas me disse: “Minha vida é uma cocha de fios coloridos, que embaraçados formam o meu destino”

Continua ...

Sobre o ‘beijo gay’ da novela

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Virou assunto e o momento é importante, o debate coloca as cartas na mesa e é dele que surgem as maiores possibilidades de mudança. Rolou um ‘beijo gay’ no horário e canal da novela tradicionalmente mais assistida no Brasil. E agora, José? Se na televisão aberta do Brasil o beijo gay hoje é uma novidade – pseudo novidade na verdade, afinal o beijo gay foi dado em 1990 na TV Manchete, e houveram outros – na humanidade e em toda a natureza a homossexualidade sempre foi um dado, uma característica existente na sexualidade de uma parcela importante de indivíduos. Sempre teve lésbica, gay, bi, trans e uma diversidade imensa de outras possibilidades.

                                                       (reprodução TV Globo)

O meu primeiro beijo gay, pelo que me lembro, foi aos três anos: meu tio me dava ‘oi’ com um selinho. Trocar carinho e ter amor por pessoas do ‘mesmo sexo’ é homoafetividade e na vida de todos nós, nas nossas famílias, trabalho, escola, faculdade, na natureza e em todos os lugares convivemos com cidadãos não heterossexuais e com manifestações ‘gays’ ou quaisquer outras que ultrapassem a estreita ideia das ‘coisas de homem e coisas de mulher’.

O beijo gay na novela do horário mais assistido da Globo demorou demais para acontecer e fez parecer extraordinário algo cotidiano e absolutamente normal – beijos gays acontecem faz tempo, e a todo tempo! Mas é fato que também escancarou as posições, gerou debate em casas, bares, facebook, etc. Também tirou do armário uma cena que muitos casais deixam de fazer. E esse é o maior avanço, mas como temos no Brasil, inclusive por conta da nossa mídia dominada por igrejas e preconceitos, um discurso de ódio em evidência, os homofóbicos de plantão não se escondem e precisamos responder mais – quantos gays já foram ‘carinhosamente apelidados’ de Félix, Niko ou Eron? Viraram piada, ou coisa do tipo? E não para aí.

Já vi e vivi muita história e conversa bacana também por conta do debate evidenciado pela novela. O assunto está aí e precisamos escancarar o quanto é ridículo e ultrapassado propagar discurso homofóbico, nas piadinhas inclusive.  É cada vez mais importante que nos posicionemos, em todo lugar. É preciso ficar atento aos nossos preconceitos; lembrar do deputado homofóbico e do partido dele;  se preocupar em quem votar para garantir que o nosso congresso não seja atrasado e defenda todxs. É preciso mostrar o quanto a homotransfobia e o desrespeito a diversidade humana tem nos atrasado. É uma questão que tem colocado o Brasil como recorde em violência. Colocar isso nos jornais, novelas e progamas sempre. Ninguém nasce homofóbico, e eu duvido que alguém verdadeiramente seja. O mundo é gay. Todxs somos.



Beijo dado na TV Manchete em 1990


Matérias interessantes sobre o assunto do Portal Igay



Precisamos de novelas trans, bis, gays, lésbicas, personagens diversos. Eu quero toda a diversidade da nossa humanidade retratada respeitada e defendida, do começo o fim de cada novela.